Admiração e desejo sexual não são sequer da mesma natureza; confundi-los é sintoma claro de carência crônica. Me pergunto: onde o mundo vai parar com essa mistura que muitas pessoas fazem na cabeça?
Admiração — do latim admiratio, “espanto, apreço, respeito” — é o reconhecimento das qualidades, habilidades ou excelência de alguém. É um movimento intelectual e emocional elevado, voltado ao mérito, não ao corpo.
Desejo, por sua vez — do latim desiderium, “anseio, falta, carência” — é pulsão, impulso, libido. Não nasce da competência de alguém, mas da sua própria fisiologia clamando por estímulo.
A diferença é abissal.
Por exemplo: se um pintor realiza o trabalho com agilidade e perfeição, transformando minha casa de um jeito que enche os olhos, eu admiro a sua habilidade. Não porque o desejo — francamente, pouco me importa sua anatomia — mas porque ele cumpriu o papel dele com excelência.
Eu admiro minha manicure pelo trabalho impecável que ela faz nas minhas unhas, mas não a desejo. Eu admiro quando um atendente entende o que eu quero antes mesmo de eu precisar explicar, mas isso não desperta nada além de gratidão por sua competência.
Outro exemplo, hipotético: posso admirar o meu ex-marido pelo pai excepcional que ele é para os meus filhos; contudo, isso não significa que eu o deseje como homem. Essa dimensão simplesmente não tem lugar nos sentimentos que guardo nessa área.
Confundir as duas coisas é assinar atestado de desorientação afetiva.