Às vezes sinto um buraco dentro de mim, e não é só vazio, é uma geografia inteira, uma cratera sem bordas. Surge uma vontade distante de amar alguém, mas não chega a ser vontade, é apenas o eco de algo que já foi real. No passado parecia fácil: eu sorria sozinho diante de mensagens, acreditava num campo invisível que me ligava a outra pessoa. Hoje tudo isso parece um truque barato da memória, um fantasma que só aparece para me lembrar que nunca mais vai voltar.
Alguma peça essencial quebrou e não há conserto. O bloqueio é denso, pesado, quase metafísico, como um firewall instalado dentro de mim sem que eu tivesse escolha. Quando penso no que era estar apaixonado, não vem esperança, apenas uma tristeza espessa, que se cola ao corpo e me sufoca. O que antes me fazia rir sozinho agora me dá vontade de desligar do mundo.