Hoje, no trabalho, chega uma criança de 18 anos. A menina tinha dezoito anos, óculos de grau, pele clara, uma fragilidade que lembrava boneca de porcelana. E então abre a boca: sífilis. Não metáfora, não piada — úlcera, secreção, a palavra clínica dita num tom quase infantil. O choque não é só dela, é nosso: a liberdade sexual como promessa de autonomia vira, em silêncio, uma estatística ambulante de DST. O sexo casual, vendido como triunfo cultural, se revela numa espécie de roleta russa higiênica. O que antes era território de prostitutas - com toda a clareza transacional do ato - agora é cenário da vizinha, da prima, da colega. O progressismo aplaude. E o resultado é este: corpos jovens transformados em recipientes precários de sífilis, HPV, gonorreia, gravidez indesejada, abortos. A boneca de porcelana, lascada por dentro.