Não é quando se quer, mas quando se nega querer que, de algum modo, já se quis — e por querer o que não se pode nomear, entrega-se, não o objeto, mas o eco dele, como se fosse o rastro do passo que ainda não pisou.
E, veja bem, não se trata de dar para receber, mas de dar porque já se recebeu, ou porque nunca se deixou de desejar aquilo que, por pudor, se finge não desejar.
É aí que o galo canta — ou seria a sombra do galo, pois o som já chegou antes da forma? E quando se percebe o canto, já não se sabe se é memória ou profecia.
Assim caminha o sujeito, tropeçando naquilo que deixou cair ao tentar esconder, e encontrando justamente no tropeço o próprio caminho. Mas quem diria que tropeçar é desejar ao contrário?
Se o desejo é falta, o ato é excesso — e nessa transbordância cega, o que se oferece é o que se teme. O galo, afinal, nunca enxergou o que cantava. E mesmo assim, todos despertam.
Já pratiquei, mas sem querer. Eu tinha terminado um relacionamento e tentei cobrir a falta com momentos. Tratava bem pq era oq eu queria receber, mas depois “deixava de lado”. Parei com isso quando percebi que as pessoas se machucam de verdade mesmo que contato tenha sido por pouco tempo