Ora, mulher, recobra a dignidade que te cabe. Nem pela filha, nem pelos deuses, toleres

tamanho desrespeito. O bebê mal chegou ao mundo; não há laço construído, não há convivência, não há sequer uma paternidade exercida. Homem decente para criar filho se encontra depois.

E não te iludas: houve traição, sim. Trai-se antes no pensamento, no desejo cultivado, na disposição íntima de consumar o ato. O corpo apenas executa o que a consciência já apodreceu.

O remédio adequado ao homem que engravida uma mulher e, ainda assim, a desrespeita — a ela e à criança — não é o perdão sentimental nem romantismo. É a lei: uma pensão bem gordurosa, garantida, com desconto direto em folha, o pão que o diabo amassou, para que ao menos a responsabilidade financeira supra o vazio moral que ele oferece.

Acha mesmo que ele pensou na família futura? Não pensou. Porque, ao contrário de ti, trouxa, boba, menina — porque é assim que você está agindo, como uma menina — ele não deseja uma família.

Mas segue, mula, adiante, jegue, se quiseres, pelo caminho da ingenuidade: perdoa o homem que não hesitou em te apagar da equação — a ti e à tua filha — justamente no período em que deverias ser resguardada, enquanto ele planejava te apunhalar pelas costas. Vá em frente, vire uma vaca, pois o leite materno que jorra de tuas tetas e as guampas já tens, no presente; só lhe falta sustentar o macho em cima.

Como dizia minha avó: o mundo está de ponta-cabeça.