As mulheres estão perdendo seus espaços?

Erika Hilton foi eleita mulher do ano pela revista Marie Claire, as mulheres estão perdendo seus espaços?
09/12/2025 17h17

O feminismo carregou em si, desde suas origens, na estrutura metafísica mesma do movimento, uma

contradição fatal que conduziria inevitavelmente ao seu próprio esgotamento: a tentativa de constituir a "mulher" como sujeito político universal enquanto simultaneamente questionava e desconstruía qualquer essência feminina fixa.

O projeto feminista partiu de uma premissa aparentemente sólida: a necessidade de a sociedade reconhecer e lidar com as dores, frequentemente invisíveis, da mulher. Porém, ao desenvolver suas críticas ao essencialismo e à naturalização do corpo feminino, o movimento desencadeou um processo irreversível de dissolução dessa própria categoria que pretendia defender. A distinção entre sexo e gênero, inicialmente proposta para libertar as mulheres da determinação biológica, revelou-se uma faca de dois gumes.

Quando o movimento avançou para questionar não apenas o gênero como construção social, mas o próprio sexo como categoria pré-discursiva, iniciou-se a demolição das bases sobre as quais se erguia a ação política feminista. O argumento de que tanto sexo quanto gênero são performativos transformou a identidade feminina em algo radicalmente instável.

Se "mulher" não designa mais uma experiência comum, não há nada pelo que se possa "lutar" politicamente. A coerência necessária para a mobilização política coletiva foi eliminada pela mera "performance de gênero". A categoria "mulher" fragmentou-se em identidades múltiplas que já não permitiam falar de um sujeito feminista unificado. O que era para ser libertação tornou-se dispersão.

Mais profundamente, identifica-se nessa trajetória um impulso gnóstico: a rejeição ao sofrimento e ao corpo feminino, considerado agora uma prisão a ser transcendida, a revolta contra a condição material feminina em favor de uma identidade puramente performativa. Essa metafísica da revolta, ao tentar superar o ser mulher, aniquilou a mulher. Na própria vitória de sua crítica desconstrutiva, o feminismo se dissolveu.