Então, uma vez alguém, neste fórum adolescente me chamou de boliviano. E veja bem, não

é que eu tenha qualquer coisa contra bolivianos (na verdade, acho até injusto que "boliviano" tenha virado xingamento em certos dialetos digitais), mas a palavra, dita ali, naquele contexto de linchamento virtual, soou como uma dessas ofensas que transcendem o próprio conteúdo semântico e passam direto para o território da pura vibração maldosa.

Como se o sujeito, cansado de empilhar palavrões convencionais como "filho da puta" e "cuzão" ou toda a fauna habitual do insulto online tivesse atingido uma espécie de iluminação linguística negativa, um nirvana do deboche, e, num lampejo de genialidade cruel, soltasse aquilo: boliviano. E o mais engraçado (ou trágico, dependendo do seu humor) é que eu nem me ofendi de verdade. Quer dizer, eu não ligo. Eu não ligo mesmo. Só que, horas depois, fiquei pensando naquela palavra, rodando-a na cabeça como quem morde o caroço de uma fruta só para sentir o gosto amargo do absurdo.