Minha mãe foi a única entre as irmãs que não levou os estudos a sério
e, por isso, acabou virando zeladora. Quando ela conheceu meu pai, ele vivia uma realidade bem diferente, ganhava muito bem. Ele disse que a tiraria daquela vida de humilhação, que não ligava para a condição dela, e que ela não precisaria mais trabalhar. Ele seria o provedor, e ela cuidaria apenas das crianças.Mas, acho que tinha uns 4 anos, meu pai quebrou financeiramente. Lembro um pouco dessa época, porque foi quando começou o desespero. Minha mãe precisou voltar a trabalhar como zeladora, passando novamente por tudo aquilo que ela já tinha enfrentado antes.
A família da minha mãe, que tinha condições, ajudou bastante. Minha avó paterna também ajudava. Ainda assim, havia dias em que, se almoçássemos, não jantávamos. E quando jantávamos, era café com bolacha ou, às vezes, só café. Meus pais muitas vezes preferiam deixar de comer para me dar, já que eu era a única criança da casa. Meus irmãos, que já eram adolescentes, também passaram por isso, nós 6.
Mesmo assim, eu era feliz. Lembro de ver meu pai se ajoelhar no meio da rua, chorando, pedindo a Deus para que aquele sofrimento passasse, que Ele o ajudasse a voltar a ser o que era antes.
E graças a Deus, meu pai não desistiu. Ele lutou, se reergueu e voltou a ser o que era. Hoje, ajudamos pessoas muito humildes. Meu pai fez uma promessa a Deus: que, se saísse daquela situação, ajudaria os necessitados. E ele tem cumprido essa promessa até hoje.
Ele sempre diz que, quando morrer, eu ou minha mãe devemos continuar esse compromisso, porque agora ele já está idoso, e quer que essa missão de ajudar nunca se perca.